17 de Novembro de 1946. Nesse dia disputou-se a partida da última jornada do último Campeonato de Lisboa de Futebol. Esta era a 1ª época dos “cinco violinos”, que nem sempre (ainda) jogavam todos juntos, pois havia também Armando Ferreira, Sidónio, entre outros.

O Benfica tentava o seu 11º título enquanto os leões procuravam o 18º. Aos encarnados bastava o empate para serem campeões.

Este foi um dos jogos mais apaixonantes de sempre entre os 2 velhos rivais. Disputou-se no Campo Grande (casa do Benfica) tendo o Sporting (sob o comando de Robert Kelly) alinhado com: Azevedo; Álvaro Cardoso e Manecas; Canário, Octávio Barrosa e Veríssimo; Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano.

O Sporting, obrigado a ganhar, entrou na partida a pressionar o seu adversário desorientando-o um pouco. Valeu aos encarnados a falta de inspiração de Peyroteo que, muitas vezes em boa posição para marcar, preferia entregar a bola aos seus interiores…

Passado aquele 1º quarto-de-hora de sufoco o Benfica conseguiu libertar-se, mas continuou a ser a equipa sportinguista a mais perigosa, não sendo de estranhar que aos 41 minutos Jesus Correia inaugurasse o marcador após um remate fortíssimo em que a bola foi defendida por Pinho para o poste, para depois ressaltar no seu corpo e entrar.

Quase à beira do descanso Azevedo magoou-se num braço ao tentar uma defesa, pelo que o Sporting teve de jogar cerca de 3 minutos com Jesus Correia a guarda-redes improvisado. A proximidade do intervalo evitou consequências funestas para os leões.

Recomeçada a partida o Sporting surgiu sem o seu guardião. Veríssimo foi para a baliza, Travassos recuou para médio e Jesus Correia passou a interior esquerdo. O Benfica tentou aproveitar-se da situação com sofreguidão. O Sporting fez bloco em frente da baliza tentando defender-se desesperadamente, afastando o perigo de qualquer maneira…

Aos 57 minutos Azevedo reapareceu e o público leonino aplaudiu em delírio. A moral do grupo foi extremamente reforçada e a equipa passou ao ataque com autoridade e decisão. Apesar disso, na sequência duma descida pela esquerda, o Benfica chegou ao empate por Arsénio num remate rasteiro que foi impossível a Azevedo deter.

A partida mudou então um pouco de cariz pois os encarnados voltaram a moralizar-se. Aos 65 minutos surgiu talvez o momento do jogo. Espírito Santo fugiu pela direita e rematou forte a um canto. Azevedo defendeu brilhantemente na mais bela jogada do encontro, mas caiu novamente por terra magoado, conseguindo no entanto reagir e voltar a levantar-se. O público aplaudiu calorosamente a coragem do guardião leonino. O Benfica, em vez de se acautelar em termos defensivos, tentava ganhar o jogo beneficiando da notória inferioridade do guarda-redes adversário, e esteve por duas vezes perto da vantagem.

Subitamente, a 5 minutos do fim, um remate muito bem colocado de Albano, a meia altura, bateu no poste e ressaltou para dentro da baliza. O Sporting estava de novo à frente! Nesta fase derradeira do encontro os verde e brancos voltaram à mó de cima não permitindo sequer uma reação ao seu adversário. 1 minuto apenas se passou e Peyroteo, a centro de Jesus Correia, rematou rasteiro, em corrida, sem chances para Pinho. Era o 3-1 e a loucura total entre os apaniguados sportinguistas.

Os leões tiveram em Azevedo o principal esteio pela sua vitória, sendo de realçar o sacrifício com que o guarda-redes jogou inferiorizado e o moral que deu à equipa com a sua presença, apesar duma luxação no cotovelo. Toda a equipa esteve bem, mesmo Peyroteo, apesar de regressado após ausência forçada de algumas semanas.

Para Álvaro Cardoso: “A alegria do team é indescritível. Ganhou o melhor. Todos os nossos jogadores merecem os parabéns. Agradeço através de ´A Bola` ao Azevedo, em nome de toda a equipa, pela sua coragem e atitude de grande desportista que é digna do maior respeito. Sinto-me também radiante com o aprumo com que o Benfica aceitou a nossa vitória.”

Azevedo estava exausto: “Creia que já não sei o que sinto. Para mim esta tarde será a de maior recordação. O braço dói-me (segundo Manuel Marques foi uma luxação da articulação), mas… como sempre, eu sentia o dever de leão… e lá fui!”

Robert Kelly, o treinador sportinguista, afirmou: “Ganhou o melhor. O Sporting soube acabar bem o desafio”, enquanto o árbitro, Carlos Canuto, referiu: “Gostei imenso do jogo desenvolvido e acho absolutamente natural a vitória do Sporting. O Benfica não soube ter calma quando o Azevedo saiu e a sua reaparição mais moral emprestou ao Sporting”.

O Sporting terminava assim em beleza a História dos Campeonatos Regionais de Lisboa, com mais um título, o 18º, deixando os benfiquistas a 10 de distância.

Foto: Azevedo saindo em glória após um jogo inesquecível.

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