5 de Outubro de 1950. Manuel Marques, o popular Manecas, foi homenageado nesse dia.
O tempo não ajudou. O brilho que os organizadores da festa desejavam para a mesma sofreu importante revés quando a Direção sportinguista proibiu Fernando Peyroteo de jogar ao lado do seu velho camarada, como este pretendia. Ao tomar conhecimento dessa possibilidade, o Sporting escreveu a Peyroteo, perguntando-lhe se ele se dispunha a apenas vestir a camisola do clube na festa de Manuel Marques ou para continuar a representar o Sporting. Peyroteo respondeu que só queria estar ao lado do seu amigo na sua festa de despedida. O Sporting replicou, dizendo-lhe que não julgava aconselhável a sua inclusão no onze de honra do clube. Enfim, um daqueles erros históricos…
Não sendo possível, por diversas contingências, um encontro internacional, convidou-se o Benfica, pois claro. O Sporting era treinado por Randolph Galloway e alinhou com: Azevedo; Caldeira e Juvenal; Canário, Manecas (Passos) e Veríssimo (Juca); Jesus Correia, Vasques, Wilson, Travassos e Pacheco Nobre.
O Sporting jogou com extraordinária rapidez fazendo uma exibição brilhante, em bloco, com uma mecanização impressionante. Logo aos 3 minutos, na sequência dum canto marcado por Travassos, Wilson saltou muito bem, e de cabeça abriu o ativo. 20 minutos depois, Travassos, na meia direita, desferiu com o pé esquerdo um tiro cruzado que entrou como um bólide na baliza. À meia-hora surgiu o 3-0 com um remate a meia altura de Jesus Correia, no centro do terreno, após passe de Wilson. A 2 minutos do intervalo Vasques fez o 4-0 após uma extraordinária jogada coletiva entre Canário, Jesus Correia e Wilson, com os benfiquistas a limitarem-se a “cheirar” a bola.
O intervalo chegou, e nele foi comunicada a atitude de Manecas, que não se considerando ainda fora de atividade desportiva, punha os seus serviços à disposição do Sporting, se fossem necessários, o que provocou uma “chuva” de aplausos. Ainda no intervalo, o jornal “Diário Popular” entregou à direção do Sporting uma salva de prata, por Álvaro Dias ter sido considerado o atleta do ano.
O “massacre” recomeçou pouco depois. Logo no 1º minuto do 2º tempo Jesus Correia, bem na linha de fundo, centrou atrasado para Wilson apontar o 5-0 com um pontapé rasteiro. 10 minutos mais tarde os encarnados conseguiriam o seu ponto de honra por Mascarenhas (o tal que viria a brilhar de verde e branco) na sequência dum pontapé de canto, tendo Azevedo ainda tocado na bola, mas não o suficiente para evitar o golo. O Sporting continuou a dominar e pressionar, pelo que foi com naturalidade que Vasques apontou o 6-1 aos 66 minutos, aproveitando um passe longo de Travassos e concluindo com grande classe. Aos 70 minutos mais um golo, agora de Jesus Correia, assistido por Vasques. A 5 minutos do fim coube a vez a Pacheco Nobre de fazer o gosto ao pé, concluindo com um tiro certeiro um canto apontado da direita. A partida terminou com um impensável 8-1, a goleada mais ampla de sempre entre Sporting e Benfica (contando todo o tipo de jogos – oficiais e particulares).
Na equipa leonina Travassos “encheu” o campo com o seu dinamismo e saber. Azevedo e Caldeira também estiveram brilhantes. O comportamento dos jogadores de ambas as equipas foi exemplar. Assinalaram-se muito poucas faltas apesar de o terreno estar molhado.
No final do jogo, Adelino da Palma Carlos entregou a Azevedo, capitão do Sporting, a taça destinada ao vencedor do jogo, enquanto a pequena filha de Manecas entregou a Francisco Ferreira, capitão do Benfica, a taça destinada aos vencidos. Entre calorosas e vibrantes ovações e manifestações de regozijo aos jogadores sportinguistas pela vitória (tão expressiva) alcançada terminou a festa de homenagem a Manecas, em beleza.
Foto (arquivo): Manecas, o homenageado.