28 de Agosto de 1923. Durante a presidência de Pedro Sanches Navarro o Sporting reembolsou finalmente Mário Pistacchini pelos 52.800$ que este adiantara do seu bolso para a construção do Estádio do Campo Grande. Graves problemas surgiram, no entanto, com o terreno de jogo dos sportinguistas. A madeira puída pela usura e pelo decorrer do tempo exigia constantes consertos. No entanto, ainda pior que isso, foi a questão levantada pelo senhorio que arrendara o terreno para a construção do campo em 1917, exigindo a denúncia do contrato e consequente despejo do clube. A polémica resultante de tal decisão seguiu a via judicial, começando-se a falar cada vez com maior insistência na possibilidade de o Sporting ficar sem Estádio…
Num inesquecível gesto de desportivismo a direção do Benfica reunida nesse 28 de Agosto de 1923, sob a presidência de Bento Mântua, enviou para o Campo Grande a seguinte mensagem: “Tendo constatado que, por força de um pleito judicial, se pretende fazer sair essa coletividade dos campos atléticos que de há muito vem usufruindo com manifesta vantagem para o desporto nacional, esta Direção, lamentando profundamente o facto, tem a honra de vir informar V.Exªs de que foi aprovado por unanimidade pôr à disposição do Sporting, para continuação dos exercícios dos seus dignos sócios, os campos e salas do Sport Lisboa e Benfica que atualmente dispõe em Benfica e os campos que adquiriu por compra nas Amoreiras.”
Sensibilizados por tal gesto, o presidente do Sporting e demais dirigentes enviaram, na volta do correio, ofício ao Benfica, referindo que: “Tal oferecimento provém do nosso mais leal e antigo adversário desportivo, pelo que esta Direção faz dele o devido registo e com ele abrirá o seu relatório de gerência. E não temos dúvidas em afirmar que ele abre uma nova página da nossa história, tão brilhante para o clube que dirigimos, que dificilmente se encontrarão páginas idênticas no seu decorrer.”
Pouco tempo antes o Benfica solicitara ao Sporting o empréstimo de 10 barreiras de Atletismo para utilização durante um torneio por si organizado. A Direção do Sporting reuniu-se e aprovou. Sem qualquer tipo de interesse futuro, que ninguém imaginava o que estava por acontecer, o Sporting deu aí um pequeno passo (mas muito importante) para o bom relacionamento entre os 2 grandes rivais. Felizmente o nobre gesto do Benfica não precisou de assumir consequências práticas, pois o caso foi-se arrastando pelos tribunais.
Curiosamente, cerca de 1 ano depois, o Sporting teria oportunidade de retibuir a solidariedade do rival quando o Benfica se viu sem campo para treinar devido à saída do clube do terreno de jogo situado na Avenida Gomes Pereira, a caminho do Campo das Amoreiras. Foi a vez do Sporting ceder as suas instalações a título gratuito ao grande rival lisboeta, contribuindo para uma política de boa vizinhança que, infelizmente, não conheceria muitos exemplos semelhantes…