6 de Dezembro de 1914. Nesse dia realizou-se a 4ª Taça Portugal em Ciclismo, uma prova de grande prestígio a nível nacional, talvez de todas as organizadas entre nós, na altura, a que maior entusiasmo despertava. O itinerário contemplava o Mercado Geral de Gados (partida), Lumiar, Amadora, Belas, Algueirão, Ericeira, Mafra, Malveira, Venda do Pinheiro, Loures, Lumiar, Campo Grande e Mercado Geral de Gados (chegada). Sporting, Benfica e Lusitano Clube Ciclista foram os emblemas concorrentes, tendo o sportinguista Carlos Fernandes triunfado com grande brilho, totalizando 3h23m.

Aliás, nesse ano, Carlos Fernandes impressionou com a quantidade de vitórias obtidas, tornando-se praticamente imbatível a nível nacional.

Tudo começou em Junho, na prova de 30km em volta do Campo Grande organizada pela União Velocipédica Portuguesa onde uma enorme multidão aplaudiu frenéticamente os concorrentes. Após a largada João Silva tomou a cabeça da prova, tendo conservado a liderança por uma volta, mas um furo obrigou-o a perder muito tempo. Os restantes concorrentes, mostrando uma boa forma, seguiam em pelotão. À 6ª volta, Carlos Fernandes, devido a um furo no pneumático, teve de trocar de máquina, o que o fez perder 200 metros que recuperou depois numa bela embalagem. Até à 9ª volta, 7 corredores disputavam ardentemente a vitória, mas ao iniciar-se a última, Carlos Fernandes embalou e tomou uns 20 metros de avanço aos restantes concorrentes, que foi aumentando, até chegar à meta com 100 metros de vantagem do 2º classificado. Ao terminar a corrida, Carlos Fernandes foi calorosamente aplaudido e com justiça, pois fez uma magnífica corrida. Joaquim Dias Maia, também do Sporting foi 6º classificado. Com a vitória de Carlos Fernandes em 56m48s, o Sporting ficou na posse da Taça oferecida pela União Velocipédica ao clube a que pertencesse o vencedor. A Cruz Vermelha, que enviou o seu automóvel de socorros, prestou relevantes serviços, tratando alguns concorrentes que se feriram.

Ainda em Junho surgiu a clássica de 50km organizada pela União Velocipédica Portuguesa. Aí Carlos Fernandes também venceu categoricamente, batendo o seu grande adversário do dia, o benfiquista José Martins, por 39 segundos.

Em Dezembro, com uma boa assistência e tempo incerto, foi inaugurada a magnífica e ampla pista do novo velódromo de Lisboa, construído dentro do magnífico e imponente recinto do Stadium do Lumiar. A pista era propriedade do Visconde de Alvalade e do seu neto, José Alvalade. O espetáculo inaugural reuniu os melhores ciclistas portugueses em provas de velocidade de bicicletas e motocicletas, tomando parte nestas corredores de Lisboa face a corredores do Porto. Todos eles prometeram atingir velocidades superiores a 100km/h! As provas foram bem disputadas e palpitantes de interesse, deixando antever um belo ressurgimento para o Ciclismo nacional, que vivia sob alguma crise. A grande surpresa da competição (apesar das indicações anteriores) foi a derrota de António Soares Junior, um dos consagrados, pelo notável “routier” Carlos Fernandes, que ultimamente se salientara em todas as provas em que havia participado. A imprensa da época ressalva, no entanto, que Soares Junior não estava na posse de todas as suas faculdades físicas, e que por isso impunha-se uma desforra.

Já em fins de Dezembro, “os tempos de glória voltaram ao Ciclismo”, com uma magnífica prova no Stadium de Lisboa. Apesar da chuva e do frio, perto de 3.000 pessoas assistiram às competições, que foram interessantes e bem disputadas. Carlos Fernandes venceu a prova de “Scratch Seniors”, a mais importante do cartaz. Ele tomou a liderança da prova logo de início e conservou o lugar até ao momento do esforço final batendo, de novo, Soares Junior. A nova estrela sportinguista triunfou ainda na prova de “handicap”, apesar da luta deseperada de Soares Junior pela “révanche”.

Por todos os motivos, 1914 foi um ano a todos os títulos notável para o ciclista sportinguista. Para mais tarde recordar!

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