Fernando Manuel da Glória Fernandes nasceu a 14 de Junho de 1966 em Lisboa. Aos 10 anos começou a interessar-se seriamente pelas Artes Marciais, muito influenciado por filmes. Aos 13 envolveu-se no Karaté mas a modalidade não o preenchia. Quando viu o filme “A Luta de Gigantes”, com Chuck Norris, deu-se um “clique” e chegou à conclusão que era mesmo disso que andava à procura. Em 1985 começou no Kick-Boxing e 4 anos depois já entrava em competições, beneficiando dos ensinamentos de Carlos Pais, Fernando Jaime e Carlos Ramjanali.
Se há lutador com “obra feita” no nosso país e reconhecimento internacional, esse é indiscutivelmente ele. Em 1990 começou a despontar internacionalmente, ao conquistar o título europeu de 95kg para amadores, e nos 2 anos seguintes “arrasou” ao conquistar mais 2 Europeus de Kick-boxing, pesos médios, agora para profissionais. Em Abril de 1992 chegou ao Sporting, e a 26 de Março de 1994 atingiu o ponto mais alto da sua carreira (numa altura em que também já era treinador em Alvalade), pondo mais de 1.500 pessoas presentes na nave de Alvalade em delírio ao conquistar o título mundial de médios WKA face ao francês Mustapha Oumrani. Nessa altura referiu: “Espero que este meu título traga novos adeptos para a modalidade, não só para a competição, mas também para a manutenção e formação”. A 30 de Outubro do mesmo ano sagrou-se campeão intercontinental de Kick-boxing, versão ISKA, após vencer por KO o campeão do Brasil e da Amédica do Sul, Ricardo Freire. Aí as suas palavras mais significativas foram: “Vou tenta progredir ainda mais e continuar a ensinar o Kick-boxing no Sporting, onde já tenho cerca de 200 alunos”. Foi ainda por duas vezes campeão ibérico de neoprofissionais.
Em 1994 foi galardoado com o Prémio Stromp na categoria “Especial Mundial”.
A fase pior veio pouco tempo depois. Em 1995 rompe-se o ciclo que estava a viver. “Houve um momento em que senti que tinha de parar. Não havia estímulos interiores nem exteriores para continuar. Na altura fiquei triste mas sabia que um dia ainda iria voltar …”
Durante uma década aproveitou para estudar e crescer interiormente. Tirou vários cursos – massagem de recuperação, reflexologia, reiki e shiatsu –, frequentou seminários e ganhou outras ambições para preencher um vazio interior. “Senti a minha outra vocação de vida. O meu objetivo era essencialmente ajudar as pessoas na parte da reabilitação física e transmitir confiança. A parte cósmica empurrou-me para outro campo. Por vezes é necessário fugir da confusão para encontrar novas respostas”.
10 anos depois de ter abandonado os rinques regressou aos combates. Diz ter sentido um clique que o impeliu a voltar. Nos finais de Julho de 2004 sentiu que o momento tinha chegado. “Foi um flash, um toque, um momento interior como que um despertar», conta. Hoje, olha para trás e diz que “nada acontece por acaso. Tudo tem um motivo para acontecer (…) Nesse período foi quase que uma hibernação como fazem os ursos que se afastam e depois regressam com mais coragem e confiança”. Acredita que, se um dia começou a sua arte, no outro parou e depois regressou, é porque existe um motivo para tal suceder. “Penso que só agora é que estou preparado para ir ao encontro daquilo que sempre desejei: estar bem comigo próprio”. Para ele não existem coincidências. Se há pessoas e situações que se cruzam na sua vida é porque são importantes para lhe mostrarem outras perspectivas e ir mais longe no crescimento interior. “As coisas boas ou menos boas são para nosso bem. Desenvolvem a coragem, a dignidade, a compreensão e o respeito. Para mim, o importante é a riqueza interior, fazer bem aos outros e ter uma imagem que transmita naturalmente bem-estar”.
Esta postura de vida quase parece paradoxal para alguém que pratica uma modalidade vulgarmente associada à violência e à virilidade. “A violência é quando as pessoas desejam menos bem às outras. Seja qual for o desporto, a profissão ou o local, o que conta é a intenção das pessoas. Há pessoas bem e mal formadas. Se for uma pessoa íntegra, digna, correta, que deseja bem ao próximo, que emite pensamentos, sentimentos ou emoções que possam ser benéficas para as outras, então não há problema independentemente do desporto que pratica. Aliás, este é o único desporto em que as pessoas chegam ao fim e se abraçam”.
Na sua opinião, no Kick-boxing/Full-contact a parte psicológica é fundamental. O atleta tem de estar 100% motivado, predisposto para triunfar, e talvez aí residisse o seu principal trunfo.
Em 2020 foi dispensado do clube.
Nota: Para a elaboração deste texto incluimos passagens do site fernandofernandes.com.pt