26 de Março de 1922. A equipa de futebol do Sporting fez uma ótima 1ª fase do Campeonato de Lisboa. Depois de 5 vitórias seguidas, perderia apenas a última partida, “fora”, com o Benfica, por 1-0, o que não a impediu de triunfar na sua série.
Como o vencedor da outra série foi o Belenenses, foi entre leões e azuis que se disputou a grande final, com os sportinguistas a tentarem a sua 3ª vitória e os belenenses à procura do seu 1º título. A partida decorreu no Stadium de Lisboa, tendo o Sporting, sob a orientação de Augusto Sabbo, alinhado com: Amadeu Cruz; Joaquim Ferreira e Jorge Vieira; João Francisco, Filipe dos Santos e Henrique Portela; Torres Pereira, Jaime Gonçalves, Francisco Stromp (cap), Emílio Ramos e José Leandro.
Às 16 horas as equipas entraram em campo seguidas por alguns diretores dos 2 clubes que trocaram cumprimentos. Os capitães, Francisco Stromp e Artur José Pereira (um ex-leão) abraçaram-se e com aparente sinceridade trocaram ramos de flores.
O Sporting começou com o vento a favor, que soprava muito e simplificava a sua missão, tanto defensiva como ofensivamente. A pouco e pouco notava-se nervosismo nos homens de Belém (talvez pela perspetiva de darem ao seu emblema o 1º título). A certa altura, por exemplo, Azevedo (defesa azul) numa das suas entradas pretendendo desarmar Francisco Stromp, atingiu-o rasgando-lhe os calções. O capitão sportinguista não “levou a mal” o ato e calmamente saiu para substituir os ditos…
O Sporting, controlando o jogo, pressionava muito e desorientava assim os adversários. Num canto de Leandro a bola bateu na mão de Ferreira e o árbitro marcou o respetivo penalty. Jaime pontapeou imparavelmente fazendo o 1-0. O público, muito ativo, protestou ruidosamente a marcação do castigo (na altura, um golo de penalty, mesmo que bem assinalado, era considerado menor, e não foram raras vezes que a própria equipa beneficiária do castigo o falhava de propósito…) e a partir daí entrou em conflito constante com o árbitro.
Joaquim Rio desatou a jogar violentamente até que se excedeu e o juiz o expulsou. O interior-esquerdo do Belenenses só saiu de campo a muito custo, e por imposição do capitão Artur José Pereira (que se despedia do futebol nessa tarde). Em sequência disso um dos espetadores, empunhando um guarda-chuva, avançou pelo campo em marcha acelerada para agredir o árbitro, caso entretanto sanado. O jogo prosseguiu e Alberto Rio teve um belo remate à trave que poderia ter empatado a contenda antes do intervalo.
Para a 2ª parte, com autorização do árbitro (!), Joaquim Rio voltou ao jogo o que provocou alguma acalmia no público. O Belenenses, agora com o vento a favor, faria tudo para inverter as coisas. No entanto, os jogadores do Sporting mostravam-se mais serenos que o adversário, combinando acertadamente entre si e desenvolvendo melhor futebol.
O Belenenses jogava duro, com muitas incorreções, e o Sporting procurava responder “da mesma moéda”. Em pouco tempo, grande incidências. Francisco Stromp atirou à trave e logo a seguir Jorge Vieira carregou Joaquim Rio na área. Neves Eugénio assinalou o penalty e grande expetativa se criou. Contra todas as previsões o valente Amadeu Cruz defendeu serenamente a grande penalidade apontada por Alberto Rio e o Belenenses ficou completamente desorientado, jogando cada vez com mais violência que o árbitro não tinha “força” para reprimir.
Apesar de todo o mau ambiente criado, sem qualquer responsabilidade por isso, o Sporting mantinha-se sereno, e a 15 minutos do fim criou o pânico na defesa adversária. Mário Duarte saiu a soco magoando o colega Anacleto e Emílio Ramos aproveitou de forma perspicaz as redes abandonadas para marcar o 2-0, “acabando” com o jogo.
Almeida e Artur José Pereira, de cabeça perdida, cometeram todo o tipo possível e imaginário de incorreções a partir daí. Para se ter uma ideia de como o jogo decorreu, e socorrendo-nos da estatística da época, poder-se-à dizer que o Sporting rematou 11 vezes à baliza contra 5 do seu adversário, tendo beneficiado de 8 cantos e 21 livres contra 2 cantos e 13 livres – domínio claro dos leões.
O Sporting venceu em todas as vertentes. Foi a melhor equipa, a que deu mais espetáculo e a que teve uma postura correta face às inúmeras pressões. Individualmente Filipe dos Santos foi o melhor homem em campo, tendo até esta altura a melhor prestação da sua vida futebolística, mas João Francisco e Henrique Portela também estiveram muito bem. No boletim leonino dessa semana (o 1º da história), José Serrano dizia que: “Não foi só pelo bom jogo e pelos golos que ganhámos o desafio; a nossa maior vitória foi o porte correto e a resignação com que recebemos e calámos as agressões de que fomos vítimas. É assim que os amigos do Sporting desejam que se jogue sempre, mesmo que nem sempre se vença. No domingo passado a nossa bandeira foi elevada a uma altura a que poucas conseguirão chegar!”
Na imagem, uma das equipas do Sporting utilizadas nessa temporada. Da esquerda para a direita e de cima para baixo: Henrique Portela, Amadeu Cruz, Filipe dos Santos, João Francisco, Emílio Ramos e Jorge Vieira; Torres Pereira, Jaime Gonçalves, Joaquim Ferreira, Francisco Stromp e Mendes Leal.