Nasceu a 13 de Março de 1904 em Lisboa, tendo começado muito novo a atividade de vendedor de jornais. Iniciou-se no GD Vendedor de Jornais e ingressou depois no Vendedor de Jornais FC onde nem sempre o deixaram correr por ser muito franzino. Afrontado, decidiu fundar ele próprio um clube – o Sport Picheleira Atlético Clube, na companhia de alguns amigos.
Começou então a distinguir-se e foi convidado para ingressar no Sporting. Assim fez, mas surpreendentemente não marcou presença em diversas provas apesar de nelas estar inscrito pelos leões. A 1 de Agosto de 1926 disputava-se uma competição em que o prémio de vitória era uma medalha de ouro, mas o Picheleira recusou a sua inscrição. Consternado, dirigiu-se ao Estádio do Lumiar onde se disputavam os campeonatos nacionais e onde, como sempre, o Sporting o inscrevera. Alinhou nos 5.000 metros ao lado de grandes campeões, e ignorado no meio de toda aquela gente famosa ganhou a prova conquistando o seu 1º grande triunfo, com 16m29,4s. No ano seguinte estreou-se a ganhar no Regional de Crosse tendo recebido a seguinte apreciação do jornal “Os Sports”: “O seu estilo é mau, com um movimento de braços muito largo que lhe causa fadiga, assim como um exagerado balouçar de ombros. No entanto é extremamente rápido, o nosso melhor corredor de meio-fundo na atualidade. Precisa de preparar melhor o físico porque é muito frágil.” No final dessa época já era detentor do recorde nacional dos 3.000 metros com 9m16,8s, e o meio-fundo começou a ser notoriamente dominado por si.
Em 1928 venceu pela 1ª vez o Nacional de Crosse, feito que viria a repetir, ao serviço do Sporting, em 1930 e 1931, tornando-se o 1º atleta português a conseguir vencer por 3 vezes a competição. Em Julho de 1929 bateu o máximo nacional dos 5.000 metros nos Campeonatos Regionais com 15m29,4s. Nesse mesmo ano atingiu os recordes de Portugal dos 2.000 (6m01s) e dos 3.000 metros (9m06,6s). Nos Campeonatos Nacionais, disputados no Porto em Setembro de 1930, obteve os recordes nacionais dos 2.000, 3.000, 4.000 e 5.000 metros, aqui com 15m25,8s, e no final da temporada já era o 2º atleta da História do Sporting com mais títulos nacionais (8).
Surpreendentemente, a sua última época de verde e branco seria a de 1931, na qual continuou a ganhar tudo o que havia para ganhar. O problema é que a dada altura da temporada foi alvo de uma repreensão registada “por ter tomado parte numa prova contra as instruções dadas pela Direção”, e que sofreria maior agravo: “Suspensão até à 1ª Assembleia Geral por se ter negado a entregar a Taça Mário Duarte que ganhara na Anadia, representando o clube, e que só entregou por intermédio da polícia!”
No final da época Manuel Dias foi para o Benfica levado por alguns amigos, mas ficou como sendo uma dos maiores atletas de sempre do Sporting (que ainda o tentou, em vão, recuperar). No seu currículo contam-se 2 Campeonatos Nacionais de 1.500 metros, 4 de 5.000 metros, 1 Campeonato Nacional da Légua e 3 Campeonatos Nacionais de Crosse. Para além disso foi ainda um razoável ciclista, modalidade em que se fez mais notado no Sporting em 1929, com algumas boas classificações em diversas provas.
Após a sua saída do Sporting continuou por alguns anos na ribalta, destacando-se um 2º lugar na Maratona de Londres e uma honrosa participação nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936.
Em 1949 foi contemplado com um prémio de 40 contos da Lotaria Nacional e teve a ideia de fundar um jornal desportivo. Daí nasceu o “Record”.