30 de Agosto de 2019. O judoca do Sporting, Jorge Fonseca, sagrou-se campeão do mundo na categoria de -100kg, ao vencer o russo Niyaz Ilyasov na final da competição, disputada em Tóquio.
O atleta, de 26 anos, tornou-se no primeiro português a conquistar uma medalha de ouro em Mundiais ao derrotar Ilyasov, terceiro classificado nos Mundiais de 2018.
O judoca leonino, que nasceu em São Tomé e Príncipe, chegou ao combate decisivo ao derrotar azeri Elmar Gasimov, vice-campeão olímpico no Rio 2016 e europeu em 2014, nas meias-finais, por waza-ari, depois de ter superado, nos quartos-de-final, o georgiano Varlam Liparteliani, por ippon, em 3m15s.
Jorge Fonseca não podia imaginar melhor desempenho na competição, que além do ouro mundial lhe valeu um lugar em Tóquio 2020. “Trabalhei bastante para isto e estou muito feliz. Senti-me o melhor judoca do mundo, trabalhei imenso para isto e é um momento muito grande na minha vida. [Ouvir o hino] é uma situação incrível, nunca o tinha ouvido em campeonatos do mundo. Espero voltar a ouvir muitas vezes”, atirou o judoca que assegurou a segunda medalha de Portugal nos Mundiais, depois da prata de Bárbara Timo em -70 kg.
Começou a praticar Judo numa escola na Damaia seduzido pelos combates de Pedro Soares, agora seu treinador no Sporting: “O Pedro Soares dava aulas na escola da Damaia. Eu ia olhando pela janela para ver como era, no dia a seguir voltava… Fui começando a gostar. Ainda não era assim nada de especial, mas pedi autorização à minha mãe e fui experimentar. Eu era um bocado gordinho… Comecei a investir no trabalho do meu corpo para ser um grande judoca”.
Demorou pouco a impor-se no tatami e em 2013 deu mostras de poder fazer carreira no Judo. Nesse ano conquistou o título português de sub-23 e conseguiu algo de inédito para o Judo nacional ao tornar-se o primeiro atleta masculino português a alcançar o título de Campeão da Europa de sub-23.
A glória ameaçava chegar quando a vida lhe trocou as voltas. Aos 17 anos foi pai e as prioridades mudaram. Pouco depois da felicidade de ser pai, em 2015, descobriu que tinha um tumor na perna. Apesar disso o Judo nunca deixou de fazer parte do seu dia-a-dia. Superou a doença com a ajuda do filho. “Foi complicado, porque quando fazia os tratamentos estava sempre maldisposto, de cara trancada, e tinha ali ao meu lado o meu filho que me fazia rir. Cheguei a ir treinar doente. Na altura dos tratamentos ficava arrasado, mas quando estava com ele ganhava força”.Jorge Fonseca treina 3 horas de manhã, outras 3 à tarde e folga apenas ao domingo.
Com o tempo consumido pela família, a saúde e o Judo, os estudos foram ficando para trás. Agora, garante que ainda quer acabar o 12.º ano para poder ir para a polícia. Até lá brilha no Judo. E é no Japão, país onde já foi detido por duas vezes – uma delas por passar a rua fora da passadeira, a outra por correr na rua sem T-shirt -, que ele espera repetir o triunfo daqui a um ano. Jorge Fonseca sonha ganhar os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020: “Tenho de acreditar que vou conseguir.”
Até aqui, dizia que tinha o campeonato do Mundo “entalado na garganta” depois de um 7º lugar conquistado nos anteriores mundiais. Agora, no Japão, Jorge Fonseca “vingou-se” e conquistou o título.
Acabou o combate a dançar e é em festa que quer ser recebido o gigante de 1,74 metros e 100 kg. “Quero ser recebido em festa, todo o mundo a dançar e a viver. É isso que eu quero”, afirmou o primeiro judoca português a conquistar uma medalha de ouro em Mundiais, justificando a sua celebração.