28 de Fevereiro de 1976. Carlos Lopes, o franzino sportinguista, atingiu o “topo do mundo”. No Crosse das Nações em Chepstow (País de Gales) Carlos Lopes triunfou de forma espetacular, sagrando-se Campeão do Mundo e deixando para trás, um a um, os atletas mais famosos. Esta constituiu a mais bela proeza individual do Atletismo português até à data.
Após 4.000 metros à cabeça do grupo das “feras”, Lopes acelerou e começou a provocar a erosão do mesmo até ficar sozinho no comando da corrida. Enquanto os seus mais credenciados adversários íam ficando para trás, incomodados e desgastados pela irregularidade do piso revolto do hipódromo, o nosso campeão parecia estar a correr numa pista de tartan tal era a leveza do seu estilo e a eficácia do seu andamento. Na meta Lopes deu mais de 16 segundos ao 2º classificado – o inglês Simons, que por sua vez também cortou isolado a linha de chegada. Lismont, Uhlemann, Mariano Haro, Gaston Roellants e outras estrelas mundiais foram batidas sem apelo nem agravo pelo português.
À chegada à meta, atrasado 100 metros em relação ao nosso compatriota, Simons perguntou quem era o fulano que ganhara a corrida. Disseram-lhe que tinha sido o português Lopes. Desdenhosamente retorquiu: “Não o conheço”. O inglês devia ter problemas de memória porque Lopes já o vencera em San Sebastian, não muito tempo antes.
Incapaz de cair em deslumbramentos, o campeão confessou que “os outros” o tinham deixado fugir convencidos de que ele não aguentaria o ritmo, “mas as forças redobram quando se vai à frente”. À chegada a Lisboa Fernando Mamede afirmou: “Quando me apercebi de que o Lopes ia ganhar apeteceu-me deixar a minha prova e correr para ele, para o abraçar”.
Lopes era empregado bancário e desde 1967 que era “trabalhado” por Moniz Pereira, que assim recolheu os primeiros louros duma aposta num trabalho de qualidade.