1 de Dezembro de 1907. Este foi um jogo que iniciou uma rivalidade com mais de 1 século de existência. Era a 1ª partida dos leões no 2º Campeonato de Lisboa, 1º no qual os sportinguistas participaram. Disputou-se na Quinta Nova, em Carcavelos, sob muita tensão devido à polémica que meses atrás causara a mudança de vários jogadores do Grupo Sport Lisboa (futuro Benfica) para o Sporting. A equipa de Belém recorreu a diversos elementos provenientes da 2ª categoria, campeões da época anterior, promovidos à equipa principal. O Sporting jogou com: Emílio de Carvalho; Daniel Queirós dos Santos e José Bello; Albano dos Santos, António Couto e Fritz; António Rosa Rodrigues, Cândido Rosa Rodrigues, James Eagleson, Viegas e Henrique Costa.
A equipa sportinguista apresentou 6 jogadores que pouco tempo antes pertenciam ao seu adversário, mais um ex-CIF, José Bello. O jogo começou sob muitos nervos, num clima de conflito e muita rijidez. Dominados pela emotividade, os jogadores não conseguiram explanar um bom futebol, principalmente os do Grupo Sport Lisboa, que acusaram muito o facto de defrontarem ex-colegas, que há bem pouco tempo eram as suas referências no futebol, e com quem haviam aprendido quase tudo o que sabiam. Foi o ambiente gerado em torno deste jogo que “acendeu a chama” da rivalidade que o tempo exponenciaria. O Sporting fez-se valer da superior estatura e condição física dos seus elementos, pois no seu futebol notou-se alguma falta de ligação.
Num embate renhidíssimo, os leões marcaram 1 golo na 1ª parte por Cândido Rosa Rodrigues (1º golo em provas oficiais da História do Futebol do Sporting) e depois veio uma chuva torrencial, com que acabou o 1º tempo. António Couto sobressaía pelo seu irrepreensível bom jogo e pela sua resistência extraordinária. Ele e Cândido Rosa Rodrigues constituiam “os sóis que iluminavam o grupo sportinguista”. O Sport Lisboa esteve bem, mas com alguma infelicidade, motivada talvez pelo estado de enervação dos seus jogadores por se encontrarem contra um grupo formado de antigos “irmãos”, cuja recordação era um verdadeiro tormento, e também por alguma falta de nível competitivo. Nesta 1ª parte não jogaram mal, embora o terreno não ajudasse.
O 2º tempo arrancou com grande energia e 5 minutos depois o Grupo Sport Lisboa conseguiu marcar um tento. Obtido este resultado moralizou-se, enquanto o Sporting se defendia mal, com dificuldades (talvez inesperadas), e praticando diversas faltas. Estava-se nisto quando começou a cair uma grande bátega e o campo, alagado, não deixava caminhar a bola. Perante tal situação o Sporting abandonou o campo, enquanto o Sport Lisboa permanecia quedo. Burtenshaw (o árbitro, e um dos melhores jogadores de futebol à época) obrigou então os leões a voltarem à liça, ao que eles obedeceram com visível má-vontade.
Apesar de todos estes contratempos, António Rosa Rodrigues, numa jogada de grande confusão, conseguiu marcar o 2-1, num lance em que Cosme Damião (o grande símbolo da equipa adversária) interveio com infelicidade, ele que era precisamente o homem que mais estava lutando pela vitória do Sport Lisboa… Neste 1º confronto com o seu futuro arqui-rival, avultou o facto de o Sporting jogar com alguma violência. Os seus jogadores cometeram várias irregularidades, e aí sobressaiu Albano dos Santos, jogador muito físico, que por vezes se excedia. Segundo o jornal “Os Sports”: “A equipa leonina denotou falta de entrosamento, mas fez-se valer da superior estatura física perante condições climatéricas adversas”.
A verdade é que, com mais ou menos sorte, mas de forma limpa, o Sporting iniciava da melhor forma a História destes confrontos, assim como o Campeonato de Lisboa dessa temporada, no qual depositava legítimas pretensões.
Segundo o livro “Jorge Vieira – o Futebol do Seu Tempo”: “O ainda menino ficou nessa tarde, mais do que nunca, apaixonado para sempre pelo Sporting Clube de Portugal, de quem viria, vários anos mais tarde, a ser uma das principais figuras, que perdurou na memória de todos. Para sempre.”