23 de Maio de 1971. O Sporting conseguiu a sua maior goleada de sempre em jogos oficiais – aliás, este é um recorde que persiste no nosso Futebol. O jogo dos oitavos-de-final da Taça de Portugal disputou-se em Alvalade entre Sporting e Mindelense (Cabo Verde) numa altura em que as melhores equipas da colónias portuguesas entravam em compita numa fase já adiantada da competição.
Os leões eram orientados por Fernando Vaz, que apresentou a seguinte equipa: Damas; Laranjeira, Caló, José Carlos (cap) (Pedro Gomes) e Manaca; Tomé e Pedras; Chico, Lourenço, Peres e Dinis.
A história do jogo é praticamente a história dos golos, 21, algo nunca visto!
Aos 4 minutos surgiu o 1-0 por Lourenço, de cabeça, a centro de Dinis da esquerda. 9 minutos depois Chico fez o 2-0 numa insistência individual pela meia direita. Ao quarto de hora os leões chegaram a 3-0, por Lourenço, num remate rasteiro de pé esquerdo. O 21º minuto foi o do 4-0 numa recarga de Pedras a “tiro” de Lourenço. No minuto seguinte Dinis fez 5-0, de barriga (!), a centro de Tomé. Aos 27 minutos 6-0 por Lourenço, numa recarga a remate de Chico. Mais um minuto e mais um golo, o 7-0, por Peres, após belíssima jogada de Chico (grande 1ª parte) pela direita. Lourenço aumentou a contagem para 8-0 aos 31 minutos depois de se ter desmarcado muito bem. Aos 37 minutos o 9-0 por Tomé concluindo um bom centro de Lourenço. Os leões chegaram à dezena por Peres, aos 39 minutos. Dinis fintou bem o lateral contrário, centrou por alto e Peres, sem deixar a bola cair no chão, pontapeou-a imparavelmente obtendo o mais belo golo da tarde. 2 minutos depois Lourenço fez 11-0 após boa combinação com Chico. A 2 minutos do intervalo Tomé rematou com força, Funa defendeu para a frente e o mesmo Tomé recargou sem hipóteses de defesa. No último minuto da 1ª parte chegou o 13º, por Pedras, a centro de Chico. Chegou então o intervalo do pesadelo para os caboverdianos, com 13-0 no marcador!
Na 2ª parte os leões foram mais brandos, marcando só (!) 8 golos. Ainda assim, no 1º lance, Peres fez uma excelente jogada individual e apontou o 14-0. No minuto seguinte Chico teve mais uma bela iniciativa pela direita e tocou para Peres, que de costas para a baliza marcou de calcanhar. Aos 50 minutos surgiu o 16-0, por Pedras, após uma sequência impressionante de remates.
Os africanos resistiram 11 minutos até ao 17-0. Peres avançou desde o meio do meio-campo contrário e concluiu de pé esquerdo a sua excelente iniciativa. Mais 13 minutos se passaram até ao 18-0, por Peres, de cabeça, a centro de Pedro Gomes. A 6 minutos do fim Marinho fez 19-0 numa iniciativa individual pela direita concluída com um bom remate. 2 minutos depois Peres, assistido por Pedras, fez os leões chegarem à vintena de golos, para Lourenço concluir o festival a 2 minutos do fim após uma troca de bola com Tomé.
Fernando Vaz referiu no final: “Foi um jogo sem grande história, com muito desportivismo dos homens de Cabo Verde, que praticam um futebol com algum primor técnico mas muito ingénuo, típico de amadores. Foram muito corretos, perdendo com um sorriso nos lábios”.
Armando Silva, o técnico dos visitantes, afirmou: “Não contávamos perder por tão larga margem, mas para muitos jogadores foi a 1ª vez a jogar na relva… Aprendemos bastante com o Sporting”.
De salientar que apesar do contínuo avolumar do marcador os jogadores do Sporting nunca perderam o respeito pelo adversário e pelo próprio jogo. Talvez por isso se tenha chegado a tais números… inimagináveis – 21-0!
Tempos mais tarde soube-se que os próprios jogadores leoninos perderam a conta ao marcador. Peres e Lourenço fizeram então uma espécie de aposta sobre qual deles faria mais golos (sem saberem quantos tinham marcado!). Peres acabou por ganhar a aposta com 7 golos contra 6 do companheiro. Na foto, um dos golos de Lourenço.