Joaquim Francisco Agostinho nasceu a 7 de Abril de 1943 em Brejenjas, concelho de Torres Vedras. Viveu alguns anos em Moçambique onde ouvia as reportagens na Emissora Nacional dos grandes triunfos de 2 homens – também de Torres Vedras, João Roque e Leonel Miranda, que corriam no seu clube de coração – o Sporting. Já na juventude ligava todos os dias duas localidades (Brejenjas – Torres Vedras) numa bicicleta pasteleira a fim de trabalhar como hortelão na quinta cujo caseiro era o pai de Ana Maria, sua futura mulher.
Num fim de tarde de Outubro, quando regressava a casa, passou por ele o ciclista António Marta (pai de outro ciclista que apareceria mais tarde, Carlos Marta), que andava na estrada a treinar numa bicicleta de corrida. Agostinho viu-o passar e foi na pasteleira atrás dele. Marta ficou impressionado com a força do jovem de 25 anos (que nunca tinha feito desporto), mas forçou o andamento, afastou-se e escondeu-se nuns caniços para perceber até onde podia ir Agostinho. Foi então que o viu passar numa pedalada fortíssima, estrada acima. No dia seguinte encontraram-se de novo e Marta perguntou-lhe se ele queria experimentar uma bicicleta de corrida, recomendando-lhe que procurasse João Roque (o ciclista mais experiente da região), corredor do Sporting. Agostinho assim fez, mostrou-lhe vontade de ter um equipamento próprio e comprar uma bicicleta mais leve e mais rápida. O diálogo entre os dois foi curioso, tendo João Roque combinado com Agostinho dar-lhe um 1º programa de treino para que o candidato a ciclista pudesse participar em Dezembro seguinte na tradicional Corrida do Bairro em Torres Vedras, reservada a amadores. Nesse programa de treino Agostinho tinha de percorrer a distância habitual, mas às quartas-feiras, sábados e domingos pedalaria 70km.
A corrida chegou e Agostinho ganhou-a com uma volta de avanço deixando todos perplexos com a sua força e invulgar resistência. Como é óbvio, João Roque recomendou-o de imediato ao seu clube. Assim, chegou ao Sporting em Fevereiro de 1968. Em Abril do mesmo ano entrou no Campeonato Regional de Fundo para Amadores que venceu. Em Agosto do mesmo ano ficou em 2º na Volta a Portugal sendo a grande revelação da prova, ajudando à vitória por equipas. Após essa competição foi selecionado para o Campeonato Mundial de Estrada, em Imola. Conseguiu a melhor classificação portuguesa de sempre ao ficar em 16º lugar, e foi o único português a chegar ao fim. Em Setembro obteve o seu 1º título nacional de fundo e no final do ano correu-se a Volta a São Paulo, que venceu com facilidade.
Surgiram logo convites vindos de fora e Gribaldy, patrão da Frimatic, levou-o à Volta ao Luxemburgo, onde se classificou em 2º lugar e à Volta à França, onde ficou em 8º, adquirindo grande prestígio internacional. A 3 de Julho venceu a 5ª etapa da Volta a França – Nancy-Mulhouse, tornando-se o 1º ciclista português a conseguir tal proeza. De regresso, triunfou na Volta a Portugal mas acusou doping no contra-relógio decisivo (que venceu de forma soberba). Em 1970 sim, conseguiu finalmente a sua 1ª vitória homologada na Volta a Portugal, onde o Sporting também triunfou coletivamente.
Em 1971, na Volta mais dura de sempre até então, repetiu o triunfo, conseguindo ainda um fantástico 5º lugar na Volta a França.
No ano seguinte conseguiu o tri na Volta a Portugal, igualando um feito só antes conseguido por Alves Barbosa (mas em anos diferentes), naquela que seria a sua última vitória na competição. Em 1973 repetiu-se a História, e após o triunfo na Volta foi desclassificado por doping.
Em 1975 o Sporting foi o 1º clube português a participar numa Volta a França – a competição mais importante do velocipedismo mundial. Agostinho foi o chefe de fila mas faria o seu pior “Tour” de sempre ao classificar-se no 15º lugar…
Depois prosseguiu a carreira no estrangeiro, onde entre outros feitos, conseguiu ser 3º na Volta a França de 1979, com 36 anos!
Em 1984, já com 40 anos, regressou a Portugal e ao Sporting. A sua decisão gerou uma euforia desmedida nos meandos do Ciclismo leonino, que venceu todas as primeira competições da época com grande autoridade. A 30 de Abril disputava-se a 5ª etapa da Volta ao Algarve, que Agostinho liderava, quando um cão se atravessou no seu caminho já muito perto da meta. Caiu, ainda conseguiu terminar a etapa com a ajuda dos companheiros, mas fraturara o crânio. Foi para o hospital de Faro e depois de ambulância para Lisboa onde já chegou em coma profundo e foi operado 10 horas depois do acidente… Morreu dias depois, a 10 de Maio, e todo o país chorou o infeliz desfecho do melhor ciclista de todos os tempos em Portugal.
No seu currículo, além da várias participações meritórias no estrangeiro e inúmeros triunfos em circuitos e grandes prémios no nosso país, ficaram, ao serviço do Sporting, e como mais significativos, as 3 vitórias em Voltas a Portugal, os 6 títulos consecutivos no Nacional de fundo, e o Nacional de perseguição em 1971.
É com orgulho e muita nostalgia que leio esta noticia. Vivi e cresci a ver este GRANDE HOMEM e GRANDE DESPORTISTA, conheci-o de perto, dado que morou em Bairro Arenes em Torres Vedras, era para nós miudos na altura um grande previlégio ver de perto o grande ídolo do Ciclismo Nacional e Internacional.
Paz à sua Alma. Carlos Freitas